segunda-feira, 10 de maio de 2010

FERROVIA OESTE-LESTE: Trilhos carregam sonho de uma vida melhor

      O povoado de Esquiva é apenas um pequeno arruamento poeirento, sem calçamento, com dez casas e uma pequena igreja. A área, onde dezenas de famílias se dividem em sítios no cultivo de lavouras de subsistência, pertence a São Desidério, município com a maior área no Oeste da Bahia, a 869 quilômetros de Salvador. Para chegar ao local, a partir do núcleo urbano, são 50 quilômetros de estrada asfaltada e mais oito de barro. É nesse cenário rural que uma tosca placa de madeira alimenta os sonhos do lavrador Diomar Vieira.

      “Lote – 02 Ferrovia da Integração TO-BA/Geofísica/SEV Nº530+720 (estaca)/Rio Calheira, Estiva”. É o que está escrito na placa do levantamento do traçado da obra fincada ao chão no meio do mato e que assegura a passagem, por ali, dos trilhos da ferrovia. Trabalhador rural, Diomar vive a expectativa de dias melhores com a chegada da Ferrovia da Integração Oeste-Leste (Fiol): “A gente aqui tá pronto pra trabalhar”. Hoje, ele sobrevive do cultivo de mandioca, milho e feijão. Para quem vive na região, em núcleos urbanos ou rurais, a ferrovia traz a esperança da redenção com um ciclo de desenvolvimento.

     Em território baiano, os trilhos vão atravessar 32 municípios, num percurso de 1,1 mil quilômetros, desde Ilhéus até São Desidério, passando por Caetité e Barreiras. Ao longo desse trajeto, a ferrovia vai viabilizar grandes e pequenos empreendimentos, favorecer o escoamento da produção agrícola e empregar diretamente 30 mil pessoas durante o período da construção, que deve começar em junho deste ano e terminar no final de 2012.

ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO – O agronegócio -algodão, milho, café e soja - no oeste será favorecido com o transporte ferroviário. A soja, que tem a maior área plantada na região, produziu este ano uma safra recorde de 2,9 milhões de toneladas. A competitividade da agricultura baiana fica maior, diz o vice-presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Sérgio Pitt. “Só temos hoje o modal rodoviário e, quando chega a safra, o frete dobra de preço, o que faz do transporte um dos nossos principais custos”, explica Pitt.

Licitação para construção já está em andamento

      O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador Jaques Wagner participaram, em Ilhéus, no final do mês passado, do lançamento do edital de licitação que vai escolher as empresas que farão os 14 lotes da construção de Ferrovia da Integração Oeste-Leste (Fiol), considerada uma das principais obras de infraestrutura do Brasil. A previsão é de que a primeira etapa da construção da ferrovia esteja concluída no primeiro semestre de 2011, a segunda no primeiro semestre de 2012 e toda a ferrovia até o final de 2012.

      Ilhéus é o ponto final da ferrovia, que sai de Figueirópolis, no estado do Tocantins, e percorre 1,4 mil quilômetros até chegar ao mar, entrando na Bahia pelo município de São Desidério, na região Oeste. No caminho, ela passa por 32 municípios baianos e cruza o estado de ponta a ponta, no sentido oeste-leste. A Fiol também vai interligar a Bahia a outros estados, pelo cruzamento com a Ferrovia Sul-Norte, que terá 3,1 mil quilômetros, entre o Pará e São Paulo. A ferrovia faz parte de um projeto que une o oceano Atlântico ao Pacífico, por meio de uma malha ferroviária.

IDÉIA DE UM BAIANO – O projeto da Ferrovia Oeste-Leste foi desenvolvido pela Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., empresa do Ministério dos Transportes especializada na construção de ferrovias. A inspiração vem do projeto concebido pelo engenheiro baiano Vasco Neto, há cerca de 50 anos. Para realizar a construção, a obra foi dividida em três etapas: a primeira, entre Ilhéus e Caetité, terá 530 quilômetros, a segunda, entre Caetité, Barreiras e São Desidério, 413 quilômetros, e a terceira, de São Desidério a Figueirópolis (TO), 547 quilômetros.

      Segundo o governador Jaques Wagner, a Ferrovia Oeste-Leste será uma importante alternativa para o transporte de cargas, estimulando novos investimentos e potencializando as exportações baianas. “Esta é a maior obra de infraestrutura da história da Bahia. É a garantia do escoamento da produção agrícola e mineral e vai contribuir muito para o crescimento do estado”, afirmou.
      Vantagens estratégicas – Com previsão de investimento de R$ 6 bilhões até 2012, a Ferrovia Oeste- Leste deve gerar mais de 30 mil vagas de trabalho durante sua construção. As vagas estarão espalhadas ao longo do trajeto, ampliando a descentralização dos empregos na Bahia.

      Entre as vantagens previstas com a construção da Ferrovia Oeste-Leste no estado estão: a redução de custos sociais e privados dos transportes de insumos e produtos diversos; o aumento da competitividade dos produtos do agronegócio com possibilidade de implantação de novos polos agroindustriais e de exploração de minérios e a dinamização das economias locais, alavancando novos empreendimentos na região, com aumento da arrecadação de impostos, conexão com a malha ferroviária nacional, além de geração de cerca de 30 mil empregos diretos.

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